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Da proibição de abelhas ao local do farol da Ilha do Mel: veja curiosidades do Arquivo Público

Criado em 1855, o órgão protege a memória documental do Estado e é um dos mais antigos da administração pública. Nele estão documentos que ajudam ...

13/03/2025 10h31
Por: Redação Fonte: Secom Paraná
Foto: Geraldo Bubniak/AEN
Foto: Geraldo Bubniak/AEN

Não são só museus e bibliotecas que guardam a história e a cultura de um povo. No Paraná, o Arquivo Público protege a memória documental do Estado, sendo um dos órgãos mais antigos da administração pública, criado em 1855 pelo presidente da Província do Paraná, Zacarias de Góis e Vasconcelos, ainda no período imperial.

É lá que estão documentos que ajudam a entender a formação do Estado e até mesmo curiosidades pouco conhecidas da população. O Arquivo Público também mostra como era o Paraná em diferentes áreas que vão da segurança pública até “escrituras” e posses de terrenos, além dos reflexos da escravidão em solo paranaense.

O espaço conta com um acervo de mais de 8 mil metros lineares de documentos. Devido a grande quantidade de registros, o teor de muitos arquivos ainda é desconhecido por parte da equipe do órgão. Quando descobertos, seja pelo setor de pesquisa ou por pesquisadores que visitam o Arquivo Público, eles passam a ser categorizados, facilitando as próximas buscas.

O órgão também iniciará, em abril, um processo de digitalização de 100% dos arquivos sob sua guarda. O objetivo é fazer com que essas informações estejam disponíveis na internet para o público em geral, facilitando o processo de pesquisa, tanto do público interno quanto externo. A medida faz parte das celebrações dos 170 anos do órgão.

“Isso já diz da importância de uma instituição que dura tanto tempo. Ela é importante para preservar a história, o que realmente aconteceu com os nossos antepassados, sejam eles imigrantes, indígenas, negros, todas as pessoas que passaram pelo Paraná”, opina a diretora do órgão, Kassia Cavalari Basso. “Não só o Paraná, mas como todos os outros órgãos como o nosso, espalhados pelo País, precisam dessa existência para conseguir preservar a história, não esquecendo o que passou, o que vivemos e o que vamos viver.”

Para realizar uma visita presencial ao Arquivo Público, é necessário agendar com antecedência pelo telefone (41) 3521-9100. Outra opção é conferir os documentos digitalizados que podem ser acessados online, pelo site , na aba de “Consulta ao Acervo”, o que facilita a pesquisa e o acesso à informação.

O órgão está localizado na Rua dos Funcionários, nº 1.796, no bairro Cabral, em Curitiba. Está aberto ao público de segunda a sexta-feira, das 9h às 12h e das 13h30 às 17h.

Confira algumas das curiosidade desse espaço:

Máscara mortuária

De cara, o item que mais chama a atenção de quem visita o Arquivo Público é a máscara mortuária de Zacarias de Góis e Vasconcelos. De acordo com a diretora do órgão, esse tipo de registro era comum na segunda metade do século XIX. “Antigamente quando a pessoa morria, se eternizava a face, como uma espécie de preservação de sua memória”, explicou Kassia.

É justamente isso que faz o Arquivo Público. A máscara moldada na fisionomia do presidente da província foi feita em seu leito de morte, em 1877, e hoje fica exposta em eventos especiais no hall de entrada da instituição, contando, inclusive, com fios de cabelo do próprio Zacarias de quando foi feita. É uma peça com quase 150 anos de existência.

Foto: Reprodução/Secom Paraná
Foto: Reprodução/Secom Paraná

Foto: Geraldo Bubniak/AEN

Documento de enxada

Um item histórico é o inventário de bens de Baltazar Carrasco dos Reis, um dos primeiros povoadores dos campos de Curitiba. Documento mais antigo do Arquivo Público do Paraná, datado de 1697, nele constam todos os bens de Baltazar, como enxada, pá, informações sobre terrenos de sua posse, cavalos, entre outros itens.

“Esse documento está em uma condição bem sensível, então quando a pessoa tem curiosidade para saber mais sobre ele, disponibilizamos uma cópia digitalizada para não precisar manipular o original”, comentou a coordenadora do Setor de Pesquisa, Tamiris Almeida Santos.

Constituição de 1891

Outro documento, bem mais simbólico, é um exemplar com as assinaturas originais da Constituição Estadual de 1891 por membros da Assembleia Constituinte do Paraná. Este documento, que é um dos marcos fundamentais da legislação do Estado, representa não só o início de uma nova era para o Paraná, como também um elo com a República Brasileira.

Qual teu sobrenome?

O acervo mais rico do Arquivo Público e campeão de procura por parte da população diz respeito à entrada de imigrantes, com mais de 150 mil registros digitalizados. “Ali a pessoa pode descobrir se tem algum parente, algum ancestral. Tem o nome das pessoas, a idade, a nacionalidade, então é um pontapé inicial para conseguir uma dupla cidadania”, ressaltou a bibliotecária da Seção de Documentação Permanente, Dora Silvia Hackenberg.

“Imagina um sobrenome polonês com um monte de consoantes, com as diversas variações que o escrivão de 1890 pode ter dado para aquele nome. A própria pessoa pode brincar com o seu sobrenome. A parte de imigrantes está toda digitalizada, então não é preciso vir presencialmente para descobrir se tem algum documento que possa ajudar nesse processo”, complementou.

O Arquivo Público do Paraná emite uma certidão, que pode ser utilizada pelo cidadão para dar início ao processo de dupla cidadania, com o documento já reconhecido e autenticado. O órgão é um dos únicos do País a emitir a certidão de maneira gratuita.

Foto: Reprodução/Secom Paraná
Foto: Reprodução/Secom Paraná

Foto: Geraldo Bubniak/AEN

Rebouças

Outros documentos emblemáticos são os que mencionam os irmãos Rebouças, tais como um ofício enviado por Antônio Rebouças para o Vice-Presidente da Província do Paraná em 1873, por meio do qual trata da concessão relativa à estrada que liga as localidades de Morretes e Barreiros, e outro ofício que versa sobre um relatório das atividades do engenheiro, o que demonstra sua atuação em conjunto com a administração provincial da época. Netos de uma escravizada alforriada, eles conceberam a Estrada de Ferro Curitiba-Paranaguá.

Abelhas proibidas

Outro registro curioso é um ofício do juiz de direito de Curitiba, Agostinho Ermelino de Leão, em 10 de julho de 1869, que faz referência ao Decreto nº 206 de 7 de julho de 1869, que proibia a criação e conservação de abelhas dentro dos limites do quadro urbano de Curitiba. Além disso, o Arquivo Público também preserva um mapa da época do decreto, mostrando o perímetro urbano de Curitiba destacado em vermelho. Este mapa ajuda a contextualizar o alcance da proibição e ilustra como os limites da cidade eram percebidos em meados do século XIX.

Terras dos padres

Em relação aos terrenos, eram os padres que mantinham, em livros paroquiais, informações detalhadas sobre as propriedades, proprietários, doações e transações significativas, com documentos datados de 1856 a 1893. A delimitação dos terrenos era outro diferencial. Em vez de cercas, muros e medidas que são comuns hoje em dia, ela era feita com base em descrições geográficas e marcos naturais, como rios, montes e árvores específicas.

“Temos a documentação, que é o registro de terra, e quem guardava esses registros eram as paróquias, os padres ficavam com o domínio desses registros. Então todo detalhe de terra que era da pessoa, só os padres sabiam”, acrescentou a coordenadora do Setor de Pesquisa.

Decisão de Isabel

Já no fim do século XIX, em 1888, com a alforria concedida aos escravos, um telegrama recebido por um juiz e publicado pela Câmara Municipal de Curitiba mandou celebrar a decisão da Princesa Isabel com a promoção de três dias de festas. A reação paranaense, que destoa de outras regiões do País, é um dos itens que podem ser consultados no acervo.

Onde construir o farol?

Em 1872, foi erguido o Farol das Conchas, na Ilha do Mel, por ordem de Dom Pedro II, com a finalidade de orientar os navegadores da região. Dez anos antes, o capitão do porto Gabriel Ferreira da Cruz, enviou um ofício ao presidente da Província, Antonio Barboza Gomes Nogueira, com informações que guiariam a escolha do local de construção. O registro também é uma das peças mais históricas do Arquivo Público.

CUIDADOS – Para manter em boas condições a história e a memória do Paraná e até mesmo do Brasil, o Arquivo Público conta com um Setor de Preservação Documental (SPD), que é responsável pela preservação do patrimônio documental do Estado.

A historiadora e integrante do SPD, Bruna Xavier Marcondes, explica que é necessário o uso de equipamentos de proteção individual (EPIs) para o manuseio dos documentos. “Nós fazemos toda a etapa de preservação com luvas e máscaras porque são documentos muito antigos, podem ter fungos, mofo, além de jaleco e touca, então estamos sempre equipados”, comentou.

Todos os itens do Arquivo passam por uma avaliação constante quanto às suas condições. “Nós temos a etapa de higienização, onde passamos as trinchas no material delicado, marcamos caso tenha necessidade de fazer algum reparo nesse livro ou documento. Mais tarde, depois que estiver adequado, começamos o acondicionamento, para que ele volte ao depósito, sem danos materiais”, acrescentou. Esse acondicionamento, que envelopa o item, visa evitar a deterioração do arquivo e preservá-lo em boas condições.

No caso da necessidade de um reparo, os profissionais utilizam materiais especiais, como o papel japonês, extremamente delicado. São utilizados equipamentos específicos para a conservação, como espátula de osso, espátula térmica e cola especial para fixar o papel japonês no local que possa ter algum reparo a ser feito, e bisturis, para retirada de grampos, em uma verdadeira operação. Tudo feito com extremo cuidado para que o paciente, no caso o documento, saia dali recuperado.

Outro detalhe é sobre o ambiente em que esses arquivos são armazenados. Os depósitos permanecem o maior tempo possível fechados e com as luzes apagadas, acesas apenas para a retirada de documentos. A temperatura deve permanecer entre 18º C e 22º C, sendo conferida duas vezes por dia. A umidade relativa do ar deve estar entre 50% a 60%, com a utilização de desumidificadores quando necessário.

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